terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"chamemos-lhe outro nome"

vamos ver se nos entendemos: em democracia cada pessoa é livre de ter opinião (e bem sabemos como nós, portugueses, gostamos de ter várias e de expressá-las). o problema é quando essa opinião, fruto da educação ou das convicções de cada um, se expressa através da intolerância e do desrespeito pela liberdade dos outros.
ontem, quase por acaso, comecei a ver o Prós e Contras na RTP. tema: o casamento entre homossexuais. acredito que temos todos, independentemente das nossas crenças e valores, um quê de irracionalidade que nos deixa cegos quando a discussão aquece. o tema é, à partida, propício a acesa discussão. o que vi (vimos todos) foi, infelizmente, uma gritante desigualdade de argumentos e, mesmo aqueles que poderiam ser pouco mais que equilibrados, eram automaticamente destituídos de sentido pela abordagem seca, intransigente e não raras vezes homofóbica.

é triste perceber que este é o espelho da sociedade que (ainda) temos. mas é pior constatar que é nos mais jovens (mais do que eu) que o preconceito é mais forte, mais enraizado. e revelado com um certo orgulho de quem acha ter a verdade do mundo na ponta da língua.
senti a certa altura, ao ver um jovem defensor do não sentado na plateia e a mandar calar os oponentes com um gesto que vale sempre mais que mil palavras, que estamos a regredir; que o alegado atraso de anos que temos em relação ao resto da Europa nunca será ultrapassado; que a nossa mentalidade é na verdade demasiado profunda e imatura, pequenina mesmo. mais do que o preconceito imaturo, é a convicção exacerbada que me surpreende. profundamente.
a título de exemplo, vejamos:

* "nós, os normais..."!!!
* "a Europa está a tornar-se um sítio perigoso, onde eles até já podem casar!" (pois imaginem, num mundo onde as mulheres até já trabalham e votam... tudo pode acontecer!)
* "qualquer dia, os bissexuais também vão querer casar com um homem e uma mulher ao mesmo tempo!" (definam bissexualidade a esta pessoa, p.f.!)

um desenrolar de argumentos (?) profundamente sexistas e homofóbicos. um desconhecimento total do que significa ser pessoa, com todos os direitos de justiça, liberdade e dignidade que isso implica. uma divisão brutal e vergonhosa de que nenhuma sociedade se pode orgulhar. uma desresponsabilização perversa e cruel do respeito que todos merecemos, independentemente da idade, raça, credo ou orientação sexual.
e, acima de tudo, um alheamento absoluto do que é sentir, amar.

2 comentários:

Anónimo disse...

"os mais jovens (mais do que tu)" não são, muitas vezes, mais preconceituosos, mas sim, mais parvos e infantis. a ideia de serem contra ou a favor de algo apenas se manifesta dessa forma, porque pretendem assumir uma imagem que acreditam ser adulta e informada. não digo que muitos deles não sejam de facto contra, mas acredito que também há os que gostam de um bom espectáculo de exibicionismo, tentanto mostrar opiniões sobre assuntos nos quais não dispenderam muito tempo a pensar, nem tão pouco passaram tempo suficiente a tentar perceber. mas o dar um "ar superior" ultrapassa qualquer uma dessas coisas, julgam eles sem se aperceberem realmente da figura ridícula que fazem transparecer.
quanto às "gerações futuras" (mais recentes do que a tua) não te preocupes demasiado. as mentalidades vão mudando aos poucos, muito lentamente e aqui tens como prova a tua irmãzinha MAIS nova (embora nem todos pensem, ideia essa que me deixa furiosa!) que é uma fixe e que acredita que o mundo vai ficar melhor com o tempo :)

Joana disse...

bolas, Di! 'tás altamente intelectual. isso da Sociologia ainda te pode fazer mal!