não sou mãe. como tal, há coisas que ainda não vi ou senti e que provavelmente não consigo compreender. ouço ou leio várias vezes que por um filho fazemos tudo. mas quando esse tudo raia o limite do bom senso, da loucura, do mediatismo sem rédea, isso assusta-me.
celebrizar a morte é, só por si, macabro. mas fazer um circo mediático em torno dela torna-nos (a nós, sociedade) obsessivos, mórbidos, perversos.
Jade Goody era apenas mais uma pseudo-personalidade criada à pressão pelo Big Brother inglês. uma daquelas personagens que entram no shaker de um reality show e se tornam famosas. nunca fizeram nada espectacularmente benéfico para a sociedade, não escreveram um livro, não plantaram uma árvore. mas ao que parece pariram uma personagem única, onde a inteligência não abunda na maior parte dos casos; apenas a sede da fama, tão efémera como o programa.
infelizmente para ela, foi-lhe detectado um cancro [doença que, só de ouvir o nome, me faz tremer de pavor] cervical. Jade Goody continuou, segundo consta, a tirar partido dos holofotes para comover o mundo e garantir o sustento dos filhos menores. vendeu os direitos das fotografias de um casamento saído da panela de pressão (porque é urgente casar antes de morrer) e ponderou vender os direitos dos seus últimos dias de vida - o que, só por si, levantaria questões graves de ética e moral. quero ainda acreditar, talvez ingenuamente, que ver alguém morrer em directo ou ao vivo é violento e doentio demais para ser verdade!
a facilidade com que alguém se torna um herói no mundo de hoje, altamente globalizado, é revoltante. agonizante por vezes. a hipocrisia com que ignoramos todos os dias quem pena nas camas dos hospitais e quem morre à fome, numa qualquer rua desta vida, torna-se gritante ao ler as páginas e títulos de jornais e televisões dedicados a Jade Goody.
já não se trata de um mero "porque é inteligente ser-se estúpido?"; chegámos ao fim da linha onde se afirma que "Jade Goody é a mais corajosa das noivas" ou em que a própria diz que "foi o dia mais feliz da minha vida e agora estou pronta para ir para o céu".
não percebo porque é que compactuamos com isto. é mau, triste, brutal. todos nós temos direito à privacidade, a viver o sofrimento na quietude e nos braços dos que nos amam. mas creio que a dada altura isso se torna também um dever. não é esconder, apenas conter.
1 comentário:
Quando vi a notícia na TV fiquei estupefacta. Como é possível uma coisa tao macabra?
Por outro lado, permiti-lhe-á deixar um certo dinheiro aos seus filhos. Tento entender... mas nao consigo. Choca-me.
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