depois das sete

o silêncio de casa ao fechar a porta atrás de mim. os saltos altos da vizinha de cima, a máquina de lavar roupa do vizinho do lado ou um carro a passar na rua são as únicas interrupções na melodia do fim de tarde. escurece, a chuva ameaça cair, o frio sente-se pela frincha da janela da cozinha. o cheiro da lareira acesa, da sopa ao lume, do bolo a sair do forno. uma campainha que toca. um telemóvel ao fundo. a luz do candeeiro de mesa no canto da sala, o candeeiro de pé que impõe a sua presença ao lado do sofá. o tapete branco convida a sentar. o livro à cabeceira que parece não ter fim, quase sempre derrotado pela pilha de revistas que se acumula na mesa da sala. uma mensagem, uma resposta. ligar o portátil e ouvir a música do momento. ler os últimos mails do dia, procurar uma receita, fazer uma compra. ter vontade de escrever mas não saber a quem. ou melhor, sim. fechar os olhos por um momento.