terça-feira, 11 de maio de 2010

se eu soubesse rezar

dois valdisperts ao acordar. um meio sorriso, amarelo de preferência. ou cara fechada, que é um sinal para o exterior de que quero ficar em silêncio. pouca paciência. para os outros e para mim. pouca tolerância às falhas. e à falta que algumas pessoas fazem, sem perceberem que há ali um espaço que é preciso preencher. muito mais agora. desilusão com outras, que não podiam agir como fizeram, não podiam dizer o que disseram. a forma, mais que o conteúdo. não podiam porque sabem.

têm sido assim os últimos tempos. o tempo é pouco para poder deitar a cabeça na almofada e dormir muito, horas a fio só para o tempo passar mais depressa. têm sido assim, porque a vida por vezes nos põe à prova e nem sempre sabemos estar à altura dos desafios. enquanto derrubamos um obstáculo, há sempre mais três ou quatro que se erguem, sem nos darem tempo para nos recompormos.
cada dia tem sido uma batalha. e em todos eles tenho tido a sensação que saio derrotada, por mais que faça, por mais que me esforce, por mais que me tente superar.

estava nisto quando a M. me ligou a chorar e disse "não sou compatível". o chão fugiu-me momentaneamente debaixo dos pés e a partir daquele momento passaram a ser apenas elas a importar.
a M. não é compatível com a irmã, o que significa que se inicia agora uma nova fase. a F. tem aplasia medular, ou seja, a medula dela tem uma disfunção e deixou de fabricar células sanguíneas. a causa é difícil de determinar, mas calcula-se que possa ter sido um vírus que se alojou na medula, danificando-a. o transplante seria o tratamento mais recomendável: a irmã, dadora mais provável, não é compatível; agora será feita uma procura no banco nacional de dadores de medula.
no entanto, ela não pode esperar. vai ser internada amanhã para começar o tratamento. vai ficar um mês em isolamento, porque o sistema imunitário vai estar muito debilitado e portanto vulnerável a tudo o que é exterior. a F. vai fazer 25 anos daqui a uns dias e vai passar o dia dela no hospital. mas ela sabe, como eu sei, que esse é um mal menor para combater a doença. esta fase vai ser difícil, vai ter dias dolorosos e de medo profundo... mas ela vai vencer. eu acredito.

a história da F. é, como tantas outras, triste e revoltante. porque ela é muito nova, porque é uma miúda saudável, com uma vida normal e que só quer ser feliz. e é por ela e por todas as pessoas que, como ela, sofrem desta doença sem nada poder ser feito para o evitar, que fica novamente o apelo para se inscreverem no banco universal de dadores de medula. as únicas condições são: terem menos de 45 anos, mais de 50 kg e não sofrerem de nenhuma doença crónica ou autoimune. o resto é fácil: preencher um questionário, uma recolha de sangue e já está.

hoje é a minha prima que precisa. amanhã pode ser qualquer um de nós.

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