quarta-feira, 22 de julho de 2009

III

a cabeça na almofada. o silêncio tranquilo do fim de um dia. um dia. não apenas mais um, como qualquer outro. como todos os outros. não. um dia que é presente. um dia que não quis ser amanhã-é-que-é. porque não se pode adiar mais o futuro, nada ficou adiado, nada ficou por dizer. só as palavras que se calam no final de mais um livro assim.


"Encostei-me a ti e abracei-te sem sequer pensar no que estava a fazer: apeteceu-me, senti que não havia nenhuma razão para não o fazer. (...) E, estranhamente, estupidamente talvez, dei comigo a sentir uma espécie de segurança, de conforto desconhecido, naquele entendimento que impuseste e para que não vinha preparada (...). E, agora, tu adormecias como uma pedra, destroçado e exposto sem defesas, e eu deitei-me ao teu lado e abracei-te. Não, não era disto que eu estava à espera: não estava à espera de te ver assim, caído sem defesa nem disfarce, e de sentir esta vontade incrível de me encostar a ti, como se tu fosses uma parede e eu o seu contraforte. Mas agora não vou pensar nisso, vou só dormir assim, abraçada a ti (...)".

Miguel Sousa Tavares in "O Teu Deserto"